terça-feira, 4 de agosto de 2009

Sobre preconceitos e preconceituosos

O Aurélio nos diz que preconceito é conceito ou opinião formados antecipadamente sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos.
Cavalcante (2004) na sua tese de mestrado ‘O preconceito da deficiência no processo de inclusão escolar' diz que “Quando se trata de preconceito, em uma perspectiva ética, não há meio termo, mais ou menos, ou seja, não há relativismo. Ou você tem ou você não tem abertura ao outro, ou você tem ou você não tem interesse em se relacionar com o outro, ou você tem ou você não tem compromisso com o outro. Assim acreditamos que o preconceito é o primado do eu.”.
Podemos pensar então que o preconceito pode ser um mecanismo adotado pelas pessoas para o não compromisso e a não responsabilização por esse outro?
Será que o preconceito pode ser visto como uma barreira para o não acolhimento do outro como ele é?
O preconceito existe em toda parte, alguns grupos sofrem mais preconceito que outros. A maioria das pessoas se intitula não preconceituosa.
Muitos de nós já sofremos preconceito em algum momento das nossas vidas, alguns sofrem preconceito todo o tempo. Todo mundo sabe disso, todo mundo finge que não é preconceituoso.
Pesquisa realizada em 501 escolas públicas de todo o país, baseada em entrevistas com mais de 18,5 mil alunos, pais, mães, diretores, professores e funcionários, revelou que 99,3% dessas pessoas demonstram algum tipo de preconceito etnorracial, socioeconômico, com relação a portadores de necessidades especiais, gênero, geração, orientação sexual ou territorial.
De acordo com a pesquisa 96,5% dos entrevistados têm preconceito com relação a portadores de necessidades especiais, 94,2% têm preconceito etnorracial, 93,5% de gênero, 91% de geração, 87,5% socioeconômico, 87,3% com relação à orientação sexual e 75,95% têm preconceito territorial. Ou seja, todo mundo tem preconceito com o outro que é diferente dele, então: o branco tem preconceito com o negro e o negro com o branco, o velho com o jovem e o jovem com o velho, o rico com o pobre e, é claro, o pobre com o rico, o homofóbico que não pode nem passar pela mesma calçada que um gay e um gay que detesta o homofóbico e tem um grande preconceito em relação a essa categoria tão preconceituosa. E a coisa continua... o homem tem preconceito com a mulher, o baiano com o mineiro, o gaúcho com o paulista, o atleticano com o cruzeirense, o “feio” com o “bonito”, o magro com o gordo e por aí vai...
Conclusão: Ninguém é bom o suficiente se não for um clone de si mesmo.
Parece que vemos o outro através do nosso umbigo e isso nos torna potencialmente seres preconceituosos já que na opinião da maioria de nós, eu sou bonito, o outro não, eu sou inteligente o outro não, eu faço as coisas certas o outro faz errado, eu tenho bom gosto o outro é cafona, eu ouço música o outro só escuta porcaria, eu não tenho preconceito quem tem é o outro.
Será que lutar contra o preconceito é uma grande perda de tempo? Considerando que 99,3% é praticamente toda a população, o que fazer diante desta cruel realidade?
Quanto maior a diferença e quanto menor o grupo, maior o preconceito. Os deficientes mentais, por exemplo, segundo a pesquisa, são os mais discriminados, 98,9% das pessoas querem distância de “criaturas tão incapazes, esteticamente estranhas” e que só vieram para atrapalhar o bom andamento de grupos sociais que, mesmo formados por brancos, negros, magros, gordos, velhos, jovens, deficientes, gays e tantos outros, se livraram de diagnóstico tão nefasto, “livres” aprenderam a conviver uns com os outros e, colocando seus preconceitos no bolso fingem que se respeitam.
O mais preocupante é que a pesquisa foi feita no ambiente escolar e, considerando que a escola é o lugar onde crianças, com ou sem deficiência, passam a maior parte do tempo e é o local onde eles aprendem ou deveriam aprender a viver em sociedade, bate um desespero e a pergunta torna-se inevitável. O preconceito tem conserto?
Não é na escola que crianças e jovens deveriam aprender? Não é na escola que, além dos conteúdos obrigatórios e cada dia mais inúteis, as crianças deveriam aprender a convivência, a ética, a cidadania, a solidariedade e o respeito á diversidade?
Se o ambiente formalmente responsável pela educação não é capaz de formar as crianças que deveriam ser cidadãos menos preconceituosos, como acabar com o preconceito, como ensinar o respeito ao outro? Quem vai ensinar?
Pais e mães que precisam passar o dia trabalhando, entregam a educação de seus filhos para terceiros, no caso os educadores que, conforme a pesquisa, também estão incluídos na estatística dos preconceituosos.
Pais e escola alegam que a responsabilidade é do outro e, isentos de culpa, seguem ilesos na sua cotidiana vida de preconceitos disfarçados.
Como ensinar? Quem vai ensinar?
Enquanto ninguém assume este papel, o governo nos presenteia com estatísticas que nos deixam ainda mais inseguros diante do futuro. E, se considerarmos que o futuro é um devir, o momento de agir é agora.
Somos os responsáveis pelas próximas gerações e pelo mundo onde vamos viver a nossa velhice.
O que nós estamos fazendo pelo futuro da humanidade?
O que estamos fazendo por nós?
Onde estão os 0,7% da população, aqueles que não entraram na pesquisa como preconceituosos? Será que os 0,7% são formados pela grande minoria de pessoas conscientes que respeitam a diversidade?
O que eles estão fazendo, de fato, para mudar esta realidade?
Enquanto as resposta não vêm... Vamos vivendo o nosso cotidiano mudando de calçada e virando o rosto para não ver o outro?

Um comentário:

  1. Lurdinha, sou irmã da Vânia Diniz e tia da Mônica. Gostei muito de seu blog, está de parabéns. Eu também tenho um blog e coloquei o seu na minha lista de blog. No meu, também trato de preconceito, entre outras coisas. Beijos e vá em frente que está muito legal e com muita informação.

    Cristina Arraes Moreira
    http://cristinaarraesmoreira.blogspot.com
    www.cristinaarraesmoreira.com.br
    http://irmasescritoras.blogspot.com

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